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quarta-feira, 21 de abril de 2010

Do desculpar e do perdoar

Verbos aparentemente de significado idêntico ou pelo menos utilizados com igual propósito, desculpar e perdoar, na realidade, representam atitudes bem diferentes.

Desculpar, como a própria etimologia revela, é tirar a culpa de alguém. Desculpar-se é pedir a alguém que lhe tire a culpa. Há muitas maneiras de pedir desculpas, sendo a mais difícil: "Desculpa o meu erro. Espero não fazer isto novamente".

Porém, ainda assim, tenho como fraco o verbo desculpar. Prefiro o perdoar: "Perdoa-me pelo mal que meu erro lhe causou". É frase para poucos; para os bem-aventurados. Os demais tendem somente a esboçar palavras de desculpas, que, por muitas vezes, pioram as coisas.

Bem diferente do desculpar, perdoar não repara, mas renova. Não elimina as aparências, mas restabelece a ligação entre as pessoas. Recupera laços, liberta quem dá e quem recebe. Transforma o não dito em confissão, colocando as ofensas num confronto direto, e por vezes difícil, com a dor provocada e o sofrimento calado.

Uma vez que se pede perdão pelo erro, seria mais fácil se a pessoa aceitasse o pedido imediatamente, mas nem sempre é o que acontece. Portanto, o correto é ser paciente com a espera pela resposta.

Já quem apenas pede desculpas, deveria ao menos ser honesto e dizer a frase conforme está lá, em seu coração, e não como sempre diz:

- Não acho que tenha errado, mas lamento muito que a minha atitude lhe tenha trazido algum dano.

- Não tive a intenção de ofender você, mas, ainda assim, peço desculpas pelo transtorno que involuntariamente causei.

- A sua atitude não me deixou alternativa, senão reagir deste modo. Lamento muito.

- Peço desculpas não pelo que fiz, mas pela forma que fiz; como você sabe, eu estava sob intensa pressão e me excedi.

- Não era esta a minha intenção, mas, se magoei você, queira me desculpar.

- Errei, mas, no meu lugar, qualquer um erraria. Desculpe.

- Desculpe, mas você sabe que eu sou assim.

A lista pode ser interminável, porque, em matéria de auto-engano, não há quem supere o ser humano (rimou!). Todas essas desculpas se resumem a uma frase que não foi dita: "Na verdade, a culpa é sua". O que essas frases, na verdade, pretenderam dizer foi:

- Se eu não errei, mas você se ofendeu, a culpa é sua por ser assim tão sensível e sofrer sem necessidade.

- Se eu não tive a intenção, você deveria se colocar no meu lugar e vir minha boa intenção.

- Se você me forçou a agir como eu agi, é você quem me deve pedir desculpas.

- Se errei apenas na forma, é porque eu estava correto no essencial e você não prestou atenção.

- Se magoei você e você não deveria ficar magoado, você é quem me deve desculpas, por me fazer sentir tão mal.

- Se errei, como qualquer um erraria, não sou pior que ninguém.

- Se minha natureza falou mais alto e explodi, você deveria ser mais compreensivo e menos exigente comigo.

O que fazer diante de pessoas capazes de nos atacar triplamente - nos ofendem, nos culpam e nos fazem ficar mal, acusando-nos de sermos tão cruéis? Manter distância. A distância deve suceder um esforço de diálogo pedagógico, no afã de mostrar a impropriedade ofensiva pedidos de desculpas.

A distância deve ser acompanhada da observação participante e ainda da expectativa honesta de que haverá mudança. No entanto, para alguns, isso não é cristianismo sincero.

Certo é que, só há uma atitude correta a se tomar quando um erro é cometido. E "Perdoa-me" são as palavras certas a se dizer nesta hora. Está claro que perdoar é mais que desculpar, vai muito além de tirar a culpa de alguém.

Em que me baseio para escrever isto tudo? Por meio da morte de seu único filho, Deus nos concedeu perdão - e não desculpas - por todos os nossos pecados. O sacrifício de Jesus na cruz é à maior prova de apagar de erros que qualquer pessoa poderia receber.

Ao se aceitar este sacrifício, com sincero arrependimento pelas iniquidades cometidas, Deus concede perdão e apaga de Sua memória todo e qualquer erro, para sempre.

Agora, o desafio é que se faça o mesmo: perdoar. Você consegue?!

3 comentários:

  1. Belíssimo post, meu amado!

    Como o perdoar é maior, sublime!!!

    Não só tira a culpa mas restabelece, recupera algo, alguém.

    E Jesus.... Jesus é o melhor, maior e o mais belo exemplo de alguém capaz de perdoar.

    E como Ele mesmo nos ensina, saber de quem é a culpa não deveria importar, o que tem realmente importância é perdoar.

    ====

    Você é maravilhoso com as palavras, sei que já ouviu (leu) muito isto, mas é a pura verdade. E tens uma sabedoria admirável também.

    Não demore muito para escrever novamente, eu e muitos outros sempre esperamos ansiosos por seus post's.

    Amo você, Yuri!

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  2. A sua amada Márcia já disse muito do que eu iria dizer... portanto vou terminar ratificando o que ela lá disse... Não se demore a escrever...

    Estamos àvidos por suas palavras.

    Forte abraço.

    Maxwell

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  3. Meu caro Yuri, finalmente estou por aqui. Mas vamos ao que interessa, como sempre digo que deve ser.
    Você faz uma comparação valorativa entre pedir desculpas e pedir perdão. Em benefício da última opção.
    Não sou religioso, como você o sabe muito bem, mas tenho cá comigo alguma formação intelectual que me permite participar de alguns debates. Entres eles, o de cunho religioso.
    Acho que a oposição não está entre pedir desculpas e perdir perdão. Está entre desculpar com o pedido de desculpas e desculpar sem que tenha havido o pedido de desculpas. Ou entre perdoar sem que tenha havido o pedido de perdão ou perdoar só se o pedido tenha sido pronunciado. Aí, quero crer, reside o sublime. Se alguém me faz um mal - propositadamente ou não - e se eu só o desculpo ou só o perdoo se ele se pronunciar, não vejo nenhum sinal do Sublime aí.Qualuer descrente está apto a perdoar a quem lhe pede perdão. Qualquer descrente está apto a desculpar a quem lhe pede desculpas. Aquele que acredita em Deus não pode perdoar ou desculpar no condicional. Sobre isso é indiscutível a passagem do apredejamento de Madalena. Ätire a primeira pedra aquele que nunca pecou". Ora, quem diz isso é Jesus, não só filho de Deus mas o próprio Deus encarnado em homem. Ele poderia ter obrigado Madalena a pedir desculpas ou a pedir perdão. Não o fez. Muita vez o exigir desculpas ou o exgir perdão é uma forma de arrogância. Nunca um Deus foi tão Sublime (sendo tão extremamente humano) quanto Jeus nessa passagem.
    Desculpe-me se digo bobagens. É que sou um mero intelectual, como diria o filósofo alemão, humano, demasiadamente humano.
    Grande abraço de quem lhe tem profundo respeito.
    Roberto Kenard

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