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terça-feira, 23 de junho de 2009

Celibato e Amor

Os medievais defendiam a idéia de que o celibato era um chamado especial, um chamado para estar aberto, "vago" para Deus.

Pelo fato de não se ter casado, a pessoa cristã solteira estaria mais - ou deveria estar mais - dedicada a Deus.

Na Bíblia, 1 Coríntios 7:32b, o apóstolo Paulo explicita-o: quem não é casado cuida as coisas do Senhor, de como agradar ao Senhor.

Pondo de lado a ênfase medieval, que colocava o celibato num grau superior ao do casamento, a visão do apóstolo parece razoável. Afinal, sem a responsabilidade de marido - ou esposa - e filhos, a pessoa solteira pode, em princípio, se dedicar mais à obra de Deus.

Digo em princípio porque existem cristãos solteiros em condições específicas que impedem ou reduzem a possibilidade de tal dedicação; aqueles que acumulam o encargo de cuidar de pais doentes ou idosos, por exemplo.

Ultimamente ocorreu-me outra maneira de compreender essa passagem bíblica.

Quem não é casado cuida... De como agradar ao Senhor.

Como agradaremos a Deus? Orando mais? Possivelmente. Assumindo funções ou cargos na igreja? A Bíblia diz que uma pessoa é chamada para isso, e capacitada (Romanos 12:6; 1 Coríntios 12:28); embora se diga que o cristão deve buscar dons (1 Coríntios 12:31).

E também é dito que, em funções de grande responsabilidade, convém que o cristão seja casado (1 Timóteo 3:2, 12; Tito 1:6).

Então, é sensato supor que "agradar ao Senhor" nessa passagem referente ao papel dos cristãos solteiros tem de relacionar-se a mais; do que trabalhar na igreja.

Veio à minha cabeça outra possibilidade: a de que agradaremos a Deus fazendo o que Ele nos diz para fazer, com uma abertura maior para fazê-lo do que sendo casados. E o que seria?

Jesus disse-nos: amai-vos uns aos outros. Ele disse que este era o novo mandamento (João 13:34) e o apóstolo João enfatizou-o (1 João 3:11,14,17-18,23; 4:7-21).

É evidente que as pessoas casadas amam; não se trata da capacidade de amar, mas da possibilidade ou abertura para amar: os solteiros podem amar mais. O seu foco terreno - uma só pessoa - não está presente.

O casado tem graus para exercer o dom do amor - marido ou esposa, filhos - e depois os outros. Não é errado que seja assim. Porém a ausência deste foco, deste ponto central - falo de amor a seres humanos - possibilita mais: possibilita amar a muitos, imensamente, ou ilimitadamente.

Possibilita amar a muitos, com os braços bem abertos, sem qualquer receio ou reserva - receio ou reserva que decerto acabariam ocorrendo, em se tratando de uma pessoa casada ou já comprometida.

A idéia, claro, não é nova. O monge Aelred de Rievaulx (século XII) parafraseou João assim: Deus é amizade, e todo aquele que permanece na amizade permanece em Deus (1 João 4:16).

Os perigos nem por isso terminam. Como escreveu C.S. Lewis, o inferno é o único lugar onde estaremos livres dos perigos do amor.

Amar sempre constituirá um perigo, uma ameaça, pois nos expõe ao não-amor, à indiferença, quando não ao ódio. Às vezes, ao amor mais caloroso, vívido, recebemos luvas de pelica e cortesia. É um risco. Acontece. Mas o sentimento, a sensação de vida, de plenitude trazida pelo amor, é sua própria recompensa.

E a não correspondência também nos aproxima de Deus: quando amamos, e não somos amados - ou não tão amados quanto gostaríamos - podemos saber como Deus Se sente, abrindo os braços para um mundo indiferente, para uma igreja com freqüência inóspita e que O trata até com respeito - porém sem paixão.

Para mim tem sido importante recuperar este conceito, do celibato como um chamado para amar mais, já que, como solteiro, venho me deparando com assomos de amor que me parecem suspeitos ou questionáveis, porque não consigo classificá-los.

Não contendo teor sexual, são, ainda assim, perturbadores, até que lembrar-me de Aereld, celibato e amor, chamado, ajudou-me a pôr as coisas em perspectiva: se amo, não faz sentido etiquetar o que sinto numa categoria pré-concebida. Não é importante. O importante é: eu amo.

E posso amar - estar aberto a isso, quer este amor se encaixe nos moldes que já conheço, quer não.

Os corolários dele - a preocupação com a pessoa, as orações por ela, a alegria de encontrá-la, o desejo de que ela realize os próprios sonhos - aí estão.

Amar e amar apenas. Pode ser uma aventura amar assim. Em momentos isolados, na companhia daqueles que me são queridos, vou descobrindo que é.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

STF acaba com a obrigatoriedade do diploma de jornalista: fim do lengalenga

Passados três meses sem um post - devido à promessa e falência intelecto e sentimental minha, um tema de gostoso assunto tomou conta do país, e, por conta disto, resolvi dar as caras.

Ontem, 17, por oito votos a um, o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou a exigência do diploma de jornalista para exercício da profissão.

Na avaliação do presidente do STF – e relator do caso, ministro Gilmar Mendes, o Decreto-lei 972/69, que estabelece que o diploma seja necessário para o exercício da profissão de jornalista, não atende aos critérios da Constituição de 1988 para a regulamentação de profissões.

Os ministros do STF acolheram o recurso ajuizado pelo Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São Paulo (Sertesp) e pelo Ministério Público Federal (MPF) contra uma decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região que tinha afirmado a necessidade do diploma.

Sobre a decisão, há prós e contras. O patronato e as entidades representativas da categoria - como sempre - estão em lados opostos, posto que a decisão atenda à tese da Associação Nacional dos Jornais (ANJ) e contraria a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).

Fiquei surpreso com a decisão, mas já esperava o desfecho. Afinal, há anos se luta pelo fim da exigência do diploma para jornalista, principalmente por ele ter sido criado sob a tutela de um regime militar ditatorial, vindo com o objetivo de se ter controle sobre a imprensa.

Ou não se é sabido que esta obrigatoriedade do diploma foi algo imposto pela ditadura militar para impedir profissionais que eram contra o regime a trabalharem?

Um AI-5 disfarçado para controlar a mídia e os profissionais que trabalhavam nela. Assim, poder-se-ia ameaçar um jornalista por meio da cassação do diploma. Ponto.

Creio eu que faculdade de jornalismo é importante, pois muita gente não sabe escrever e quer trabalhar na área. Só.

Nada contra a quem fez ou faz faculdade de jornalismo, porém, eu não trocaria meu juízo pelo diploma de muitos imbecís espalhados neste país.

Há trilhões de sites e blogs pessoais na internet que possuem muitas vezes mais credibilidade que sites de notícias – e qualquer outro meio de comunicação. A comunicação de idéias quer por meio de jornal, rádio, internet, TV ou revista é um direito do cidadão!

A obrigatoriedade é apenas uma reserva de mercado, um corporativismo. Não beneficia a sociedade, apenas um pequeno grupinho de pessoas.

Agora, se alguém que fez ou está fazendo faculdade só por causa do diploma e se diz enganado, injustiçado ou com vocação perdida - não aprendeu nada na faculdade e ficou prejudicado já que não é mais obrigatório, sugiro que faça denúncia na polícia por estelionato contra a sua faculdade. Isto é roubo e compra de diploma.

[Update]Dono de boa escrita, e apurado conhecimento, o jornalista formando, Marco D'Eca, teceu excelentes comentários a respeito de se ter ou não um diploma de jornalista para exercer a profissão.

Adorei o artigo, deixando um comentário.