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segunda-feira, 27 de julho de 2009

A saudade e a falta que se sente

Saudade

Sempre ouvi dizer que a palavra saudade não possui equivalente em outras línguas...

Talvez não tenha definição, nem entendimento, daí a dificuldade de tradução.

Para mim, torna-se difícil definir, ou fazer com que entendam o que eu sinto quando digo: "tenho saudades…"

Na verdade, nem eu sei muito bem o que são saudades… Saudades daquele tempo, saudades de alguém que partiu, saudades de alguém que não chega, saudades da comida da avó…

Conseguimos dizer que temos saudades de tudo e mais alguma coisa, inclusive, de cheiros, sabores, paisagens, momentos, toques…

Depois, existem outras palavras, como nostalgia, saudosismo, melancolia, que tem uma carga de saudade, mas é uma sensação de profunda tristeza. Nem sempre sinto esta tristeza; algumas sensações fazem-me rir.

E aquelas saudades que nos perseguem? Aquelas que não queremos sentir, mas sentimos; aquelas que quanto mais queremos esquecer, mais se lembram de nós?! Aquelas saudades irritantes!?

Aquelas que já nem são saudades, são um género de beliscão na carne, são aquelas que parecem um estalo na cara?! ... soco no estômago, como disse a Clarice.

São aquelas saudades que gritam "sinto a tua falta". Aquelas saudades que se entranham em nós; acordamos com elas, deitamo-nos com elas... E ficamos fartos, cheio delas.

Decerto, sentir saudades não é o mesmo que sentir a falta. Sentir a falta de alguém é mais doloroso. Penso.

Sentir a falta dói, deixa marca, acutila a alma, sufoca, desespera, desorienta, rouba-nos o suspiro...

E quando a saudade aparece o momento em que temos oportunidade de matá-la? Creio que nem sempre se conseguem matar as saudades todas.

Fica sempre alguma coisa no peito; nem o abraço mais profundo consegue matar a saudade.

Parecendo que se consegue, é porque afinal não eram saudades - ou eram??

E no meio deste rodopio desentendido do que é a saudade, já não sei se sinto saudades, se sinto a falta… Sei que sinto um vazio que antes não existia em mim.

... Saudades do que ainda não tive; ou como disse a Florbela: "uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… Sei lá de quê!"

Definitivamente, o que não gosto é ter de ser eu a matar as minhas próprias saudades.

Matar saudades que já não fazem sentido, matar saudades que são só minhas.

Destruir saudades, apagar memórias, querer esquecer, é um processo de autodestruição consciente e doloroso, afagado em lágrimas sem sal...

Não há tempo certo para sentir, ou deixar de sentir saudades. Infelizmente não se controla isso. Mas as saudades que são só minhas, ficarão em segredo, ficarão só para mim, ficarão num sufocado silêncio que grita "sinto a tua falta".

E este é um grito mudo, ao ouvido de um surdo, que ainda por cima é cego!

Grito em silêncio, na esperança que eu ainda tenha tacto, e perceba isto durante um abraço...

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