Como alguém pôde suportar tantos açoites no corpo e na alma, e transpor tais dores para seus pincéis e telas com uma firmeza invejável?
Falo de Frida Kahlo, que, movida pelo amor e pela dor, retratava em suas telas a própria vida.
As obras de Frida são a expressão máxima da subjetividade intraduzível e inquantitável. Amor, agonia, tristeza e beleza caótica norteiam os seus traços.
A forma com que Frida soube expressar seus sentimentos, em suas pinturas, é maravilhosa, sensível e feminina. Sim, uma bela e muito forte alma feminina: linda e sensual.
Frida sofreu ao longo de toda sua vida, com dores do corpo e da alma; conseguindo transformar esse sofrimento em arte. Uma arte impactante e por vezes chocante, que luta contra tudo e todos ao mesmo tempo, e ainda assim pede carinho e atenção.
O primeiro contato que tive com a pintura de Frida, nem lembro quando, foi através de um cartão postal com a pintura de uma mulher chorando placidamente, e a sua coluna vertebral aos pedaços.

Nesta obra, Frida demonstra uma dor inquietante, através de pequenos alfinetes em sua pele; onde, no meio de seu corpo, há uma coluna, em estilo grego, quebrada; representando o seu próprio estado físico e emocional.
Fiquei chocado. Sua obra me passou um misto de dor e medo. Uma mistura de reações tomou o meu corpo: repulsa, espanto, náusea, enlevo, horror, e admiração; a ponto de eu ficar pensando nela por dias e dias.
Essa obra me causou certas sensações devido ao sofrimento tão evidente, e a sua tristeza tão elevada. Hoje creio que, na época, o que me perturbou foi o fato de Frida encarar e retratar suas dores e seus amores com tanta coragem - e de uma forma tão explícita.
Sua capacidade de transformar tanto sofrimento em arte é impressionante. Principalmente na explosão de cores em que se traduziu esse sofrimento. Frida transcendia os limites da compreensão humana.
Frida Kahlo é uma dessas pessoas cuja grandeza nos mostra o quanto o ser humano é capaz de se superar e transformar a vida, transformar o mundo, mudar os conceitos e os pré-conceitos, escrever sua história e não ser vítima, apesar de todos os obstáculos.
Alem de sua imagem com perspectivas corretas e sombreamento, Frida pintava suas angustias e anseios. Como ela mesma nos diz em seu diário: "Estou escrevendo com meus olhos", e é aí justamente que está a sua excelência.
Ela escreveu e pintou a sua vida, não houve separação da pessoa/artista, sua obra é seu espelho.
A vida de Frida Kahlo com certeza foi a sua mais fantástica obra. A pintura foi simplesmente um instrumento.
Profunda, libertária, bela, suprema, dilacerante, passional, mulher: esta é Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón. Apaixonada pelas cores, pelo prazer - e pela dor, por que não? - pela vida.