À minha esquerda, um grupo falava sobre o final da novela 'A Favorita'. À direita, duas pretensas amigas celebravam sua amizade criticando uma terceira que não estava presente.
Pouco atrás de mim, dois sujeitos conversavam sobre fotos de perfis alheios, vistas no Orkut.
Não muito distante, enquanto comprava frutas, uma mulher enumerava para outra uma lista de doenças que soava interminável, com direito a sintomas, nomes e preços dos remédios, o que dissera o médico e quando será a próxima consulta.
À frente, outro grupo discutia sobre A Bolha. Nesta, cheguei a me aproximar - imaginando se tratar do filme de Irvin Shortess Yeaworth Jr., A Bolha, um dos grandes clássicos cults de todos os tempos.
Nada. O assunto discutido era algo em torno do bbb9; Sim, bbb9. Esse lixo massificado e embalado para ser enfiado no seu … Olho.
Já sufocado, olhei para a lua e para as nuvens que já formavam chuva, e o desejo que tive - e o único que eu poderia - foi perguntar bem alto: 'Por que vocês não lêem poesia? Escutem, por que vocês não pegam um bom livro, um romance de preferência, e não se sentam em algum canto para ler?'
Hoje estou irritado!
Enoja-me que as pessoas se contentem com tão pouco, com um mundo tão estreitinho, tão miudinho, medíocre, vil, reles, ordinário. Que possam encontrar prazer ou objetivo em viver assim, dia após dia.
Então, leitores, digo a vocês: Procurem ler poesia. Procurem ler alguma coisa, por favor!
E, por favor, por favor, que não seja o jornal, com suas manchetes escândalosas, tendênciosas, malandras; onde política e economia e mesquinhez imperam, com ares de importância.
Apanhe um bom livro - certas bancas de jornal até vendem alguns - e ponha-se a ler algo de fato relevante, algo que continuará a ter valor dentro de 100, 200, 500 anos ou mais.
Uma (boa) banca de jornais pode vender Shakespeare (Hamlet, Romeu e Julieta), Pablo Neruda (Cem sonetos de amor), Esopo (Fábulas), Omar Khayyam (Rubaiyat), Daniel Defoe (Robinson Crusoe, Contos de Fantasmas), Edgar Allan Poe (Histórias Extraordinárias), Conan Doyle (O cão dos Baskervilles)... Nenhum dos quais é perda de tempo, ao contrário: ler significa expandir o tempo - porque expande nossa mente.
Ao invés de deter-se falando bobagem, de desperdiçar tempo lendo bobagem, faça a si mesmo esse favor: Leia poesia! Povoe-se de versos, leia em voz alta (no banheiro mesmo, se faltar opção. Não tem problema! )
Gotas de Drummond, goles de Álvares de Azevedo, alguns litros de Bandeira, quem sabe quanto de Fernando Pessoa. Embebeda-te, leitor!
Sinta os versos rolarem, passarem por sua boca - deslizando e escorrendo pelos lábios.
O amor, quando se revela,/ Não se sabe revelar/ Sabe bem olhar p'ra ela/ Mas não lhe sabe falar...
Ou ainda: Uns tomam éter, outros cocaína./ Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria...
E também: Gastei uma hora pensando num verso/ que a pena não quer escrever. / No entanto, ele está cá dentro, inquieto e vivo...
Quem se inunda de tudo isso não poderá e não agüentará ser medíocre, limitado, banal. Quem se alimenta disso, amplia o mundo dentro de si, mundo que passa a carregar consigo. O mundo dentro de nós é que é real, porque é ele, em última análise, que nos dá o poder de enfrentar o mundo fora de nós com esperança, com amor, e com coragem.
O mundo dentro de nós é dádiva divina, Graça comum aos que crêem e aos incrédulos.
Caro amigo Yuri, adorei o texto. Realmente, navegar é preciso, navegar na leitura. Se embebedar de poesia. Voltei a fase poesia, consegui um acervo de quase 80 poemas em mp3. Pabro Neruda, Carlos Drumonnd, Fernando Pessoa, Adélia Prado, Owsvald de Andrade, Alphonsus de Guimaraens, Artur Azevedo, Basílio da Gama. Quer mais? Tem também: Machado de Assis, Manoel Bandeira, Vinicius, Luiz Fernando Veríssimo, João Cabral de Melo Neto, Gregório de Matos, Cecília Meireles, Tomás Antônio Gonzaga, Rubem Braga. É mole? Me diz são 4 séculos de poesia.
ResponderExcluirPois, Marcelo, o que você acha de compartilhar este acervo com todos nós?
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