Há duas semanas venho me embebedando de uma grande paixão: Mozart.
A música de Mozart sempre me cativou. Posso dizer que foi 'amor à primeira audição'.
Desde o princípio, fascinou-me a capacidade do compositor em transmitir qualidades tão impalpáveis como a elegância - sua música, filha legítima do classicismo do século XVIII, é francamente refinada - e emoções sempre bem-vindas como a alegria.
A alegria, em Mozart, é esfuziante e buliçosa; como uma criança traquinas a correr pelos cômodos de uma casa, porém vestida como um príncipe - combinação intrincada, esta, entusiasmo infantil & requinte - contudo, o compositor obtinha sucesso na mistura.
Há mais. À medida que eu, adolescente e depois jovem adulto, e depois um homem, ouvia e tornava a ouvir Mozart, ia descobrindo aos poucos as sutilezas mozartianas - o modo como o compositor do Concerto para Clarinete K 622 escondia, sob uma "forma" bem comportada, "canônica" no sentido clássico da palavra, as suas inovações e ousadias.
Muito me escapa, porque não sou especialista em música. Celebro, ainda, a ignorância de quem não sabe distinguir Haendel de Vivaldi ou Tchaikovski, nem de outro compositor cuja grafia do nome eu também vou errar. O que consigo captar, porém, deixa-me maravilhado. A propósito disto, me ocorreu uma nova qualificação para pessoas: mozartianas.
Não me refiro àqueles que amam sua música ou estudam-na. Fiquei pensando nas pessoas cuja beleza, seja física ou moral, não percebemos à primeira vista. Como composições de Mozart, temos de observá-las, ouvi-las, e mais de uma vez, e outra ainda.
Assim como a obra do gênio de Salzburgo só desvela aos poucos seus segredos, a beleza de certos indivíduos só pode ser percebida após um segundo, um terceiro olhar. Uma beleza sutil, humilde, preciosa; rara, ao contrário do "açúcar" excessivo encontrado em certas fisionomias.
A beleza moral, aquela que vem de virtudes pouco glamurosas - como a lealdade, a compassividade e a paciência - só pode ser compreendida, 'vista' devagar, na convivência do dia-a-dia, na passagem do tempo.
Uma beleza meio oculta, profunda, não exibicionista, discreta, como na literatura de um Henry James e na poesia de um Manuel Bandeira, por exemplo.
Tenho o privilégio de conhecer algumas pessoas mozartianas - algumas são meus amigos e amigas, pessoas cuja beleza interior só lentamente venho descobrindo e amando.
Este post é para elas. Meu muito obrigado!
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