Uma chave é um instrumento que utilizamos para abrir algo - uma fechadura, uma porta secreta; é também o princípio. A explicação de problemas ou charadas.
Na literatura, existem obras tão desafiadoras para a compreensão do leitor que o conhecimento de uma chave faz-se necessário. Exemplo claro é Ulisses de James Joyce, em que o próprio romancista fornece um "roteiro-chave" nas folhas finais do romance imenso - uma espécie de decifrador das partes/episódios de que o romance é composto.
Existem chaves gerais, contudo. Ou - poderíamos dizer - chaves parciais. Estas "abrem" as obras até determinado ponto, ou nível, ou ângulo.
Alguns chamam essas chaves de métodos de leitura; outros, de hermenêutica - interpretação; outros ainda, de abordagens para crítica da obra literária. Se o objetivo for uma melhor compreensão, fruição da literatura, nada melhor.
Se, porém, o olhar do leitor se torna o do dissecador, perde-se o prazer - e literatura deve ser prazer. Qualquer instrumento de análise deveria aumentar nosso deleite com a leitura; e, não, secar ou reduzir esse deleite.
Literatura é prazer. O mergulho vertiginoso da leitura é experiência intransferível.
Quando lemos O Processo, relacionamo-nos com a vida de Kafka; quando Os Possessos, com a vida de Dostoievski; Ao Farol e relacionamo-nos com a vida de Virginia Woolf. Há centenas de exemplos para chave autobiográfica.
Na chave estrutural, podemos ler o texto; ao tempo que nos fazendo estas perguntas: Como o romance é organizado / montado? Há excesso de descrições, de diálogos? Como são desenvolvidos? Saco de Ossos de Stephen King e Os Trabalhadores do Mar de Victor Hugo fornecem bom material para a aplicação dessa chave.
Vale ressaltar que estas duas chaves são minhas. O leitor deve criar a sua.
Lendo Guimarães Rosa, por exemplo, o leitor encontra palavras que nunca ouviu falar, uma linguagem criada pelo próprio Guimarães Rosa, mas que é prazeroso descobrir o significado. Esta seria a chave.
Enfim, bem apanhadas todas as chaves, sigamos nessa nossa paixão do texto.
Este é o prazer da literatura. O dito prazer do texto; que pode não ser impeditivo de certa razão da leitura.
O que não podemos é cair no racionalismo que tudo pode e deixar a emoção do texto de lado.
Penso que, em geral, são as obras "antigas" que exigem de nós a descoberta dessas chaves.
Conhecer a época em que foi produzido um determinado trabalho literário, o pensamento sócio-político-cultural, além de outras curiosidades que podem auxiliar na compreensão do leitor.
Quanto mais distinta de nós é a cultura que produziu uma determinada obra, mais difícil será lê-la aproveitando todo o seu potencial - a Divina Comédia de Dante é excelente exemplo.
O desconhecimento dessas coisas "básicas" dificulta, e muito, o prazer da leitura. Afinal, que prazer há em não entender o que se lê?
Chaves pra leitura...
ResponderExcluirhummmm...eu pego um livro e vou lendo pelo simples prazer de ler!
Nunca me preocupei em saber a história de quem escreveu ou sobre a época em que foi escrito... vou tentar fazer isso na proxina leitura.
Mas não há nada como ler um livro pelo simples prazer de ler.
P.S.: Já chorei lendo um livro!
BEIJO...