Fui apresentado à Florbela num momento trágico, e, diante de sua amargura contida, de sua dor tão elegantemente revelada, senti-me de frente a um espelho.
A poesia de Florbela Espanca é de uma beleza sublime; o que me provocou um contentamento dual, pela sua simplicidade na escolha das palavras e pela clareza na transmissão do que lhe era sentido. Carne e alma entraram em regozijo.
Mulher de terrível encanto; seus poemas são extremamente sensíveis, chegando até ao erotismo. Aliás, seu erotismo é de uma espontaneidade e beleza incomparável.
Sinto em seus versos a inquietação de uma alma que não cabe nas limitações do corpo, tampouco nas convenções do mundo. Um corpo que tem sede e desejos que nem ela mesma conseguiu definir ou calcular-lhes a intensidade; que vive num constante delírio por conhecer-se, numa infinita angústia de se ser.
Em explosões de melancolia, os poemas de Florbela suscitam uma propensão para a angústia existencial.
Infelizmente, há um pensamento despótico, sectário e dogmático que se perpetua, que é a teima em rotular a poesia de Florbela Espanca como ‘imoral’. O que acho totalmente errado!
O pai tem uma filha que só perfilha depois de morta, por imposição de seus amantes literários, e a imoral é ela? Francamente...
Como seus poemas, Florbela era intensa. E essa intensidade, mais do que qualquer outro motivo, pode tê-la levado à depressão.
Existe uma versão hipotética de que a causa da melancolia de Florbela era o amor incestuoso pelo irmão; variante a qual não entrarei em detalhes.
Correto é afirma que, em seus poemas, ela descreve a dor que sentia; a agonia; a pressão de um mundo onde ela era avançada para o seu tempo.
O que é de mais admirável em Florbela não está em sua postura diante da sociedade da época. Existiram muitas mulheres como ela naquele tempo - e em outros tempos. O que mais impressiona em Florbela é a qualidade de seus sonetos.
Florbela conflitava em uma busca interior por ela mesma; pela própria essência e de como ela se surpreendia por se achar em si mesma como um ser infinito, complexo e contraditório.
A verdade é que não há nada mais justo do que deixar a própria Florbela falar por si:
“Não tenho nenhum intuito especial ao escrever estas linhas; não viso nenhum objetivo; não tenho em vista nenhum fim. Quando morrer, é possível que alguém, ao ler estes descosidos monólogos, leia o que sente sem o saber dizer, que essa coisa tão rara neste mundo, uma alma, se debruce com um pouco de piedade, um pouco de compreensão, em silencio, sobre o que eu fui ou o que julguei ser.
E realize o que eu não pude: conhecer-me. ”
Nooossa! Ai, ai! A moça da Flor, no nome!
ResponderExcluirA emblemática figura do simbolismo que passou adiante o modernismo foi uma amante do amor. A passionalidade refletida em suas obras foi parceira obcecada do existencialismo. Viveu profundamente cada sentimento, sendo ele bom, mau, frustrante e depressivo. Mas nenhum foi mais intenso do que o dos amores frustrados.
A sua alma transbordante não cabiam "nos cem milhões de versos" que pudera fazer.
A vida da Flor D'Alma é enigmática, como bem esclarecestes, assim como a sua morte, que, em diversos versos desejou. "Quem sabe este anseio de eternidade, a tropeçar na sombra, é a verdade, é já a mão de Deus que me acalenta?"
E, embora ela a tenha desejado em demasia, não comprova-se o seu suicídio.
Para ti, meu amor, deixo o seguinte soneto:
Por essa vida fora hás-de adorar
Lindas mulheres, talvez; em ânsia louca,
Em infinito anseio hás de beijar
Estrelas d'ouro fulgindo em muita boca!
Hás de guardar em cofre perfumado
Cabelos d'ouro e risos de mulher,
Muito beijo d'amor apaixonado;
E não te lembrarás de mim sequer!...
Hás de tecer uns sonhos delicados...
Hão de por muitos olhos magoados,
Os teus olhos de luz andar imersos!...
Mas nunca encontrarás p'la vida fora,
Amor assim como este amor que chora
Neste beijo d'amor que são meus versos!...
Te amo!
Ngm mandou tu colocar a Florbela aqui... :)
Beijooooooo