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sábado, 25 de julho de 2009

Da não-leitura: a cultura do verniz

Mergulhe de cabeça da leitura

Comecei a ler O Cânone Ocidental, de Harold Bloom. O subtítulo é expressivo: "Os livros e a escola do tempo". Grande verdade.

Vivemos numa época pretensiosa. Em toda parte, pretensos intelectuais apresentam afirmações questionáveis - sobre religião, sobre literatura, sobre filosofia, cinema, arte - que poucos refutam.

É fácil explicar o porquê. Nossa época é também uma época ignorante; mas como, pretensão e ignorância juntas?

Se parece esquisito, basta nos lembramos que as pessoas verdadeiramente cultas são humildes. Elas sempre estão dispostas a aprender. Elas percebem, continuamente, o quanto ainda há para aprender, por mais que se instruam.

... Só os pouco instruídos são arrogantes.

Não estou falando das pessoas com nenhuma ou pouca instrução formal. Falo das que aprenderam um pouco mais, talvez adquirindo inclusive algum ou alguns diplomas, e julgam-se, já, prontas para tudo. Capacitadas a dar seu veredito sobre tudo.

O espírito do que costumo chamar "ouvir o galo cantar e não saber aonde" é a tônica do nosso tempo.

Um livro - falo do que conheço melhor, e amo - é lançado como 'polêmico', uma 'obra madura e sensível' e muitos correm para comprar - nem sempre leem, mas compram.

Logo alguém - um crítico - lê e diz que é uma obra de arte. E todos que compraram, ainda que sem ler, concordam.

Concordo que gosto não se discute. É gosto, e pronto. Nada a declarar. Porém, escrever resenhas profissionais, lecionar em escolas - duas atividades que ajudam a moldar ou aprimorar gostos no sentido crítico do termo - repetindo modismos, sem qualquer análise, é uma impostura.

Existe um instrumental para estabelecer critérios literários. Perfeito? Não. Um instrumental indispensável, contudo.

Ler. Ler. Ler muito. Ler os grandes. Ler os clássicos. Ler aqueles que resistiram ao teste do tempo.

Somos facilmente enganados por qualquer charlatão das letras que se apresente escrevendo ficção, poesia, ou obras 'revolucionárias' quando desconhecemos o passado, aquilo que já foi feito antes.

Podem plagiar para nós toda uma cena de Henrique IV, de Shakespeare, e ninguém perceberá. Ou muito poucos.

É verdade que nem sempre temos acesso às fontes que nos permitem esse conhecimento. Ainda assim, boa parte - não toda que deveria, mas boa parte - dos clássicos e de outros instrumentais críticos está à nossa disposição.

O maior problema para nossa ignorância, penso, não se encontra aí; encontra-se em nós mesmos.

A ignorância frequentemente é preguiçosa. Isso também nada teria de mais - ninguém é obrigado a ler o que não quer - se não estivesse aliada à pretensão.

Porque, se quero ditar padrões aos outros, se quero emitir opiniões como crítica séria, tenho de mourejar. E ler os clássicos; os pioneiros; os precursores. Os que vieram antes de mim, porque terem vivido em outra época em que não havia internet não significa que fossem burros ou simplistas.

Cada época parece pensar que a sua é a única época desenvolvida, culta, avançada etc. Avançada tecnologicamente a nossa o é. Mais do que qualquer outra antes de nós. Quanto à cultura, discutível.

Temos oportunidades hoje que nossos avós nunca tiveram; raros os que as aproveitam. Preferimos a ignorância, ou melhor, o 'verniz' de cultura ou instrução. E nos julgamos muito inteligentes por isso.

Há uma frase atribuída a Sócrates - Só sei que nada sei - que me parece divisora de águas, aqui. Se podemos endossá-la, então, penso, estamos dizendo que ainda não sabemos muito; que nosso empenho em crescer, em aprender, gera maior humildade.

E não nos arvoraremos em juízes para dizer que ler o passado é perda de tempo, ou que ler o presente é suficiente. Sejamos humildes.

Um comentário:

  1. Basta uma fagulha para que suas ideias peguem fogo e possam virar fortes chamas de reflexão e análise ao mundo incrível da escrita.Quão maravilhoso é isto!
    Aprendemos, falamos e ouvimos de tudo um pouco e mais além, porém somos livres para escolher nossas denominações, seja de crítico a mero ignorante. Cada um é reflexo do que lê, ouve e fala, somos a nítida luz ou brusca escuridão do tanque de nossa maneira de viver e pensar; podemos formar ou deformar conforme nosso grau de entendimento de mundo.
    Costumo dizer que, a leitura é o alimento para uma eficiente aprendizagem seja ela de que natureza for.
    Um forte Abraço Amigo e irmão Yuri.
    Ps:Continue assim meu pequeno!Parabéns =]

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