Verbos aparentemente de significado idêntico ou pelo menos utilizados com igual propósito, desculpar e perdoar, na realidade, representam atitudes bem diferentes.
Desculpar, como a própria etimologia revela, é tirar a culpa de alguém. Desculpar-se é pedir a alguém que lhe tire a culpa. Há muitas maneiras de pedir desculpas, sendo a mais difícil: "Desculpa o meu erro. Espero não fazer isto novamente".
Porém, ainda assim, tenho como fraco o verbo desculpar. Prefiro o perdoar: "Perdoa-me pelo mal que meu erro lhe causou". É frase para poucos; para os bem-aventurados. Os demais tendem somente a esboçar palavras de desculpas, que, por muitas vezes, pioram as coisas.
Bem diferente do desculpar, perdoar não repara, mas renova. Não elimina as aparências, mas restabelece a ligação entre as pessoas. Recupera laços, liberta quem dá e quem recebe. Transforma o não dito em confissão, colocando as ofensas num confronto direto, e por vezes difícil, com a dor provocada e o sofrimento calado.
Uma vez que se pede perdão pelo erro, seria mais fácil se a pessoa aceitasse o pedido imediatamente, mas nem sempre é o que acontece. Portanto, o correto é ser paciente com a espera pela resposta.
Já quem apenas pede desculpas, deveria ao menos ser honesto e dizer a frase conforme está lá, em seu coração, e não como sempre diz:
- Não acho que tenha errado, mas lamento muito que a minha atitude lhe tenha trazido algum dano.
- Não tive a intenção de ofender você, mas, ainda assim, peço desculpas pelo transtorno que involuntariamente causei.
- A sua atitude não me deixou alternativa, senão reagir deste modo. Lamento muito.
- Peço desculpas não pelo que fiz, mas pela forma que fiz; como você sabe, eu estava sob intensa pressão e me excedi.
- Não era esta a minha intenção, mas, se magoei você, queira me desculpar.
- Errei, mas, no meu lugar, qualquer um erraria. Desculpe.
- Desculpe, mas você sabe que eu sou assim.
A lista pode ser interminável, porque, em matéria de auto-engano, não há quem supere o ser humano (rimou!). Todas essas desculpas se resumem a uma frase que não foi dita: "Na verdade, a culpa é sua". O que essas frases, na verdade, pretenderam dizer foi:
- Se eu não errei, mas você se ofendeu, a culpa é sua por ser assim tão sensível e sofrer sem necessidade.
- Se eu não tive a intenção, você deveria se colocar no meu lugar e vir minha boa intenção.
- Se você me forçou a agir como eu agi, é você quem me deve pedir desculpas.
- Se errei apenas na forma, é porque eu estava correto no essencial e você não prestou atenção.
- Se magoei você e você não deveria ficar magoado, você é quem me deve desculpas, por me fazer sentir tão mal.
- Se errei, como qualquer um erraria, não sou pior que ninguém.
- Se minha natureza falou mais alto e explodi, você deveria ser mais compreensivo e menos exigente comigo.
O que fazer diante de pessoas capazes de nos atacar triplamente - nos ofendem, nos culpam e nos fazem ficar mal, acusando-nos de sermos tão cruéis? Manter distância. A distância deve suceder um esforço de diálogo pedagógico, no afã de mostrar a impropriedade ofensiva pedidos de desculpas.
A distância deve ser acompanhada da observação participante e ainda da expectativa honesta de que haverá mudança. No entanto, para alguns, isso não é cristianismo sincero.
Certo é que, só há uma atitude correta a se tomar quando um erro é cometido. E "Perdoa-me" são as palavras certas a se dizer nesta hora. Está claro que perdoar é mais que desculpar, vai muito além de tirar a culpa de alguém.
Em que me baseio para escrever isto tudo? Por meio da morte de seu único filho, Deus nos concedeu perdão - e não desculpas - por todos os nossos pecados. O sacrifício de Jesus na cruz é à maior prova de apagar de erros que qualquer pessoa poderia receber.
Ao se aceitar este sacrifício, com sincero arrependimento pelas iniquidades cometidas, Deus concede perdão e apaga de Sua memória todo e qualquer erro, para sempre.
Agora, o desafio é que se faça o mesmo: perdoar. Você consegue?!