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sábado, 22 de agosto de 2009

A criança que nos habita

Crianças

Relendo o livro O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, clareou-me uma questão digna de post: chegamos a adultos sem darmos por isto.

É um processo tão radical, que se torna comparável ao nascimento, em que, ao passar por um canal de luz, passamos de seres não identificados para gente pequenina.

Ainda ontem eu era uma criança, dei um salto por cima de alguma coisa que desconheço, e subitamente olho para mim e sou um adulto!

Alguns de nós fomos adultos à força; então esquecemo-nos da criança que somos. Perdemo-nos dela no percurso da vida; abandonamo-la algures.

Disseram-me que as crianças despertam em nós um sentimento de ternura e proteção que os adultos não despertam. Compreendo. Talvez isto aconteça à pessoas que estejam habituadas a trabalhar com crianças diariamente. Mas e as que não estão? É natural que um adulto desperte em nós este sentimento de ternura, proteção e carinho incondicional?

Eu, quando sinto isto em relação a um adulto é porque me dou conta que dentro deste adulto habita uma criança. Dentro deste adulto há qualquer coisa de frágil e sensível, de pureza e de inocência.

Penso que quando encontramos esta criança dentro dum adulto, há então espaço para sentirmos vontade de o proteger, de o mimar e confortar. E, sem nos apercebermos disto, o nosso abraço conforta esta pessoa; como o abraço de um adulto conforta e protege uma criança.

É indiscutível!

Parece mágico um abraço assim. Não sei se já experimentaram: um adulto que abraça a criança que habita no outro adulto; a criança que nos habita que é abraçada por um adulto; e melhor que tudo, duas crianças que habitam dois adultos que se abraçam perdidas, e se sentem protegidas.

Crianças se abraçando

Para experimentar esta sensação, basta encontrar no outro a criança que o habita. Basta encontrar em nós a criança que somos, e mostrá-la sem receio da sua fragilidade e inocência.

As crianças são todas inocentes, não fazem juízos de valor; no seu abraço não há avaliação disto ou daquilo. É apenas um abraço que tranquiliza e dá paz no meio da guerra dos adultos.

E este abraço é tão bom...

O mundo dos adultos é que nos cega, mas elas continuam cá. Eu sei, eu sinto.

Te peço, não perca a tua. Tentarei não perder a minha...

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Manifesto contra os Atos Secretos e a Corrupção no Senado

Estarrecidos, assistimos mais uma vez a depredação da instituição republicana estampar as capas dos jornais: trata-se, novamente, da mais nova expressão do patrimonialismo na política brasileira.

Não obstante, muito espanto causa a postura inerte da sociedade civil diante desses fatos.

Por que não se escandaliza o cidadão ao ver a sua coisa – ora, sua coisa enquanto genuína expressão do espírito republicano – ser apossada por aqueles que os deviam representar, mas que acabam por sobrepor os interesses particulares e partidários, em detrimento aos institucionais?

A reincidência de escândalos tem feito com que a arte de fazer política, algo visto com admiração desde a cultura grega, passe a ser encarado como algo digno de escárnio.

Escândalos como estes, tão recorrentes no cotidiano político brasileiro, nada mais são do que um reflexo de um vício estrutural que se arrasta por toda formação histórica deste País.

As regras do nosso jogo democrático estão distorcidas de modo a favorecer o pequeno grupo que se apodera da máquina pública.

Questões tão atuais como nepotismo, apropriação de recursos públicos e negociação de cargos são genuínas expressões de um passado coronelista, incapaz de dissociar as esferas pública e privada.

Ora, apenas será possível vislumbrar uma atuação política mais séria, comprometida e representativa por meio do aperfeiçoamento das regras que dirigem nosso sistema democrático.

Postergar a discussão acerca da Reforma Política, esquivar-se de alterar os pontos estruturais por ela versados, é uma absoluta irresponsabilidade, e, por quaisquer motivos que sejam, somente contribui para o aprofundamento dessa crise a que assistimos.

Desta vez, há uma Casa assolada em denúncias de corrupção. Mau uso do recurso público; edição de atos não publicados que nomeiam e destituem funcionários, elevam e reduzem vencimentos; favorecimento de parentes; distorções em prestações de contas etc.

Mais um episódio na política brasileira que demonstra a carência da ética e da seriedade na condução da gestão pública.

É tênue a distinção entre a mera expiação de culpa e a efetiva responsabilização dos culpados. Naturalmente, a atual crise política que se instaurou nas instituições – em tese republicanas - não se personifica na figura de um só senador.

Entretanto, que não se use tal argumento para que o senador passe incólume frente aos atos que cometeu – não se trata de eleger um bode expiatório, mas sim procurar responsabilizar e sancionar aqueles que, de fato, tenha incorrido no ilícito.

Diante de tantas questões a serem apuradas, torna-se insustentável, e portanto duvidosa, que, sob a atual direção, as respectivas investigações se dêem de modo a garantir-lhes sua lisura.

O blogueiro-signatário deste repudia que se gira o dinheiro público por meio de atos clandestinos; repudia que se use a prerrogativa de representante do povo para satisfação de interesses particulares, ou favorecendo terceiros que lhe sejam próximos; repudia que argumentos como governabilidade ou alianças partidárias eleitorais sejam levados exclusivamente em conta na tomada de decisões políticas – interesses meramente partidários não devem ser motivadores de posicionamentos políticos frente aos escândalos aos quais assistimos; e, por fim, repudia a imoralidade com a qual a política vem sendo levada no País.

Exige-se dos que fazem as leis sejam os PRIMEIROS a cumprí-las com honestidade de propósitos e eficiência prática.

Orientado pela idéia de um Estado Democrático de Direito que tenha como base um modelo representativo e republicano de governo, de que tanto se carece em tempos recentes neste País, o signatário não poderia permanecer inerte diante de todo esse desrespeito para com a coisa pública.

Assim, exige que todos esses atos devem ser devida e seriamente apurados. Mas, para garantir a lisura desse processo, não há condições de que se mantenha a atual direção no decorrer das investigações.

Assim, clamamos que os fatos sejam apurados e se responsabilizem os culpados. É preciso que a sociedade civil se mobilize contra qualquer desvirtuamento das instituições democráticas.

Exigimos, então, ética, moralidade e espírito republicanos, valores estes que nunca deveriam ter sido esquecidos no cenário político nacional.