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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Vamos ouvir Caruso

Conheci Caruso através do filme Match Point, de Woody Allen, cuja trilha sonora é 99% Enrico Caruso; a paixão foi instantânea, quase premonitiva. Meu contato com a música erudita foi tardio, mas, aos poucos, estou aprendendo a me permitir o prazer de apreciá-la em sua forma mais autêntica.

Melhor tenor de todos os tempos, sua capacidade musical não possuía limites. Não há dúvidas de que Caruso é o gênio do Canto.

Sua técnica vocal era perfeita. A forma suave de utilizar a vibração toráxica deixava a sua voz com uma aparência de masculinidade, apesar de ter conservado aveludada a sonoridade, de modo que era comparada ao som de um violoncelo.

Sua voz de tenor dramático, até mesmo abaritonada, em meio aos inúmeros chiados das gravações mecânicas da época, se destaca; e até hoje é modelo de beleza e de interpretação.

Há uma ária que acho maravilhosa, já a ouvindo por diversos outros tenores, como Pavarotti e Andrea Bocelli, porém com interpretação nada igualável. Pavarotti e Bocelli deixam a ária absolutamente... Sem sal.

Com Caruso, a interpretação da ária é dotada de uma carga emocional tão grande, que o brilho de suas notas agudas, seu controle excepcional da respiração e sua entonação impecável tornam sua voz sem par.

O próprio Pavarotti comentou que ele (Caruso) é a base, o alicerce sobre o qual se apóia o edifício do tenorismo do século XX. Caruso criou um novo tipo de tenor e os ecos de sua escola se escutam até os dias de hoje nas interpretações dos grandes tenores contemporâneos.

Sua voz escura, baritonal, aveludada, romântica e maleável, não encontra paralelos com as demais de sua corda. Dotado de genial inteligência e talento, a sensibilidade e sinceridade de seu canto me extasiam. Caruso funde um timbre natural de barítono com um acabamento fluente e sedoso de tenor.

Lembrando novamente de Match Point, recomendo-o. A trilha sonora do filme é fascinante. Personagens profundos, atores maravilhosos. Os diálogos, a temática filosófica, tudo. E Caruso, claro.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

A dificuldade em voltar a escrever

2007 não foi nada bom para esse espaço e 2008 só começou agora, visto que já estamos no final de fevereiro e só então postei algo.

Andei completamente desaparecido do blog nos últimos meses, aproveitando-me da desculpa esfarrapada que eu andava sem tempo, e que, por isso, não pude me dedicar como gostaria, acabando por não postar nada.

Tudo mentira. Aproveitei-me do clichê de "estar sem tempo", e acabei me dar ao luxo de ter lapsos de escrita. Algo como uma abstinência textual -e intelectual. Dúvido que Joyce, Poe, Hemingway e Hesse se dessem ao mesmo luxo.

Ontem, após cair numa contradição existencial, lembrei-me de diversos momentos de ócio que tive e não os compartilhei com meu singelo caderno do cotidiano.

Esse abandono é imperdoável. Tenho um carinho muito especial pelo meu blog e preciso cuidar melhor dele, mesmo que eu não tenha platéia; comentários.

Pior do que perder uma perna do meu amor-próprio, ter deixando essas páginas em branco, foi como ter ficado de mal com os que me liam.

Houve um tempo em que mais do que espontâneo, escrever era necessário. Escrever era tão primitivo quanto pensar. Os tempos são outros. Estou num hiato criativo, que teima em não terminar.

Convenhamos, escrever não é fácil, mas voltar a escrever, depois de um longo tempo de inatividade, é infinitamente mais difícil.

Pretendo retomar e aos poucos voltar a escrever. Sei que não será como antes, mas continuo tendo gosto pela escrita.

Sintam-se à vontade para duvidar da volta do blog à atividade; porém espero conseguir frustrar os céticos.